sábado, 4 de fevereiro de 2012

Conflitos epistemológicos em "O Nome da Rosa"...


Conflitos epistemológicos em "O Nome da Rosa"...

A trama do filme ocorre no ano de 1327, num mosteiro no norte da Itália. É baseada no livro homônimo, do escritor italiano Umberto Eco.

Um monge franciscano, William de Baskerville (interpretado pelo ator Sean Connery), e um noviço, Adso von Melk (vivido por Christian Slater), aproximam-se de um lugar misterioso, frio e distante de tudo, para um conclave, que iria decidir se a igreja deveria tomar posse de suas riquezas, ou ser pobre, desapegada de bens materiais. Um bom mote, para um cenário de grandes surpresas e conflitos.

Durante sete dias ocorrem sete assassinatos, o que desperta uma investigação cuidadosa por parte do monge e de seu pupilo. No entanto, tal atitude será combatida pelos beneditinos, que comandam o mosteiro, e atribuem as mortes às artimanhas malignas do diabo.

Chega então o Grão Inquisidor, Bernardo Gui, para pôr fim a qualquer suspeita de heresia, cometida em nome das artimanhas do maligno. Este aspecto reconduz a trama para o limite de um conflito entre William e Bernardo, uma vez que este defende a ideia de que as mortes são, de fato, obras de um espírito maligno, que aterrorizava o mosteiro.

A trama se esclarece, quando surge em cena a discussão sobre um livro de Aristóteles, que seria considerado perigoso à doutrina católica de então. É desse modo que William começa a juntar as pedras deste intrincado quebra-cabeça. Tudo por conta do riso. Isso mesmo. Lá, nas páginas de Aristóteles, o riso configura um elemento capaz de oferecer satisfação ao espírito. O que, na interpretação dos beneditinos, constituía uma afronta ao próprio Deus, uma vez que, segundo eles, o silêncio e a prece são condições para uma proximidade com o divino. Qualquer espaço para um cômico deslize, e a alma estaria confinada ao inferno.

Neste caminho de busca por um lado e mistério por outro, surge o caminho que dá para uma enorme biblioteca. O labirinto em que se encontra uma das maiores bibliotecas da Cristandade é um símbolo interessante, na busca empreendida por William e Adso, rumo à descoberta da verdade. Neste labirinto ocorre a dramática queima dos livros. O que nos passa um cenário de destruição, e de tentativa a todo custo de manutenção do poder, por parte da ideologia dominante da igreja.

No fim, Adso vive o drama do amor a uma bela jovem, que vive com ele uma experiência sexual passageira, mas intensa, que o marca profundamente. Ele, porém, resolve seguir viagem com o seu mestre, e continuar desbravando os caminhos do conhecimento.

Neste debate, pude trabalhar com os estudantes temas como: controle ideológico, conflitos de poder no processo da busca pela verdade, dogmatismo ingênuo, racionalismo, nominalismo. Sendo bastante oportuna a compreensão de que havia uma estreita relação entre a situação vivida pela filosofia na Baixa Idade Média (período em que se dá a trama do filme) e sua influência na formação cultural européia no processo de transição do modelo teocêntrico para a racionalidade renascentista, que começava a despontar nos círculos acadêmicos, de modo gradativo e consistente.

Vamos chamar então os professores de História, Artes, Sociologia e História da Ciência, para um debate filosófico sobre "O Nome da Rosa". Penso que será um projeto muito bom para todos que se aproximarem e participarem.

Até o próximo cine filosófico em sala de aula...

Jorge Leão

04 de fevereiro de 2012.

2 comentários:

H&A_Eventos disse...

Gostei de ver a retomada das atualizações no blog de domingo para cá quando cometei com vc lá na Cidade Olímpica. Espero que continue fazendo as postagens as quais aprecio muito.
Alessandra Santos

filosofia com arte disse...

Agradecido, Alessandra, pelo incentivo! Até breve, foi bom ter revisto você no projeto, espero que possamos mantar este contato tão importante para aqueles jovens da cidade olímpica! conte comigo! abraçs fraternos!
jorge leão