domingo, 24 de março de 2013

De-cisão...

De-cisão...
Ao longo da vida, somos levados a de-cidir sobre os rumos de nossa trajetória. Dia após dia, o tempo nos cobra posturas de-cisivas. Escolhas profissionais, valores pessoais, conflitos afetivos, relações interpessoais, frequentemente surgem como fantasmas, assombrando o universo mental da humanidade.
O ensinamento da sabedoria milenar dos mestres iluminados traz, no entanto, um simples e singelo provérbio, bem atual: “faça de tua boca um canal de água pura”. De-cidir pela pureza das palavras...
Por conseguinte, várias serão as consequências desta de-cisão. A mudança de espaço (não propriamente físico) é o primeiro sinal. Ou seja, a presença de uma atitude mental renovada. Isso nos ajuda a refletir mais acuradamente sobre os pontos de conflito entre hábitos, valores e atitudes. Quando eu opto, por exemplo, por beber água, em vez de refrigerante, estabeleço uma cisão, isto é, uma separação ou quebra no percurso até então estabelecido.
Como sabemos, adentrar no caminho desta jornada não é fácil, pois nos cobra responsabilidade, e isso tem implicações pessoais profundas no cotidiano. Não se trata apenas de uma “mudança de hábitos”, mas de olhar o mundo com os olhos da cisão.
Como de-cidimos pelo deslocamento do antigo espaço habitado, então passamos a buscar outros modos de habitação. Somos com isso lançados no terreno da escassez. Sentimo-nos como abandonados em um deserto. O deserto da de-cisão.
Por isso, caminhar ao longo de uma estrada com pedras, repleta de árida presença de plantas contorcidas e gafanhotos, água escassa, calor escaldante durante o dia e frio intenso à noite, pode gerar medo e desconforto. O deserto, então, torna-se uma realidade à nossa frente. De-cidimos, contudo, atravessá-lo...
Nesta travessia, uma constante sensação de perda parece dilacerar a alma, a cada passo, a cada de-cisão. Ir por um caminho é optar não ir por outro. Um jogo de-cisivo, mas profundamente transformador.
Após esta longa e sofrida jornada, renascemos para a adesão, a fim de sermos renovados pela água cristalina da renovação interior. Surge assim o caminho da pureza, pois a aridez do deserto foi ultrapassada. O novo caminho a seguir vislumbra os primeiros sinais de mudança, agora compreendida como fruto de uma adesão.
A adesão prepara o terreno para a práxis, isto é, a ação livre e consciente. Quando assumimos os riscos de nossas de-cisões, e aderimos ao projeto incondicional da luta pela vida, nossas ações tornam-se translúcidas como as palavras do Mestre: “nem só de pão vive o homem”...
A ação toma agora a dimensão da livre adesão, ao que chamamos de “liberdade dos filhos de Deus”. Ao sairmos da situação aprisionada pelo horizonte limitado do egoísmo, respiramos a ternura dos lírios do campo, oxigenados pela simplicidade dos gestos de paz.
É um caminho árduo, mas ele nos aponta para a plenitude. Por isso, a cada dia, nossa de-cisão nos aponta uma adesão, livre e consciente, fundada na alegria duradoura do espírito sereno e transformador do amor.
O amor, sereno e benfazejo, translúcido auspicioso a nos dizer: de-cide.
Paz e Luz!
Namastê!
Jorge Leão
Em 22 de março de 2013

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Entre as ruínas da angústia em Nauro Machado


Entre as ruínas da angústia em Nauro Machado

                             Jorge Antônio Soares Leão[1]
O encontro do poeta com as ruínas da cidade, vendo-se enquanto visceral angústia de ser o pó que a cada dia perpassa a decrepitude do tempo. Eis o percurso inglório da poética naurina, em vigoroso processo de afirmação de um eu lírico perpassado pela angústia de fazer da poesia sua jornada humana por excelência.
Como exemplo disso, é possível observar, em Pátria do Exílio (2006), que Nauro Machado lança-se a si mesmo e sua cidade natal, São Luís do Maranhão[2], como horizonte poético de sua própria busca, mais uma vez vitalizando em sua poesia a “exploração aguda de todos os estados mais angustiantes da consciência humana” (LEÃO, 2001, p. 97).
É neste cenário que a alma do poeta torna-se desse modo abrigo de um inquieto semblante fecundo, a narrar o percurso de suas periclitantes agonias diante das ruínas do tempo. Assim, diz o poeta:
Sou a pátria do exílio agora,
nela andando em minha essência. (MACHADO, 2007, p. 23)
Ao tematizar sobre o drama de sua exploração mundana, no ser que caminha na fugacidade da existência, os versos de Nauro Machado nos apresentam uma cidade calcada pela dor de saber-se única em sua contínua asfixia. Este tema acompanha a obra poética do autor, como um traço manifesto de seu olhar sobre sua cidade natal.
É, com efeito, a imagem de um corpo em decomposição, que aproxima o poeta de seu espaço em torno da miséria e do tempo em ruínas, tornando-se fecundo narrador de sua peregrina passagem pelas ruas de seu tempo existencial. Vejamos o soneto 10, de sua obra A Rosa Blindada (1990):
Cantar-te-ei, cidade, qual se amada
fosses até o final dos que têm ossos,
para, no amor, cantar-te desamada
a destroçar-me ao chão dos meus destroços.
Cantar-te-ei, cidade, em todo e em cada
imundo beco ou rua aos passos nossos,
e em moribunda noite à madrugada
trazendo o chumbo dos soluços grossos.
Cantar-te-ei, cidade, o início e o fim
com todo o corpo. E até no podre rim
carregado por crápulas fiéis,
cantar-te-ei, de imunda, o Senhor Morto
me conduzindo ao cais do último porto
onde dormirei eterno sob teus pés. (MACHADO, 1991, p. s/n)
A cidade constitui, com isso, o encontro do poeta com a sua angústia cotidiana, sobretudo quando a vê em ruínas, abandonada pela vulgar passagem de quem apenas reflete sobre ela o traço dominante da atroz perda de memória com o seu útero. Por isso, a poesia de Nauro Machado reveste-se de imagens viscerais para dar ao corpo, que é também ruína, o espaço real de sua peregrinação. De modo a proclamar em Lamparina da Aurora (1998):
Minha ofensa tomba
Aos teus pés, cidade.
(Inatingido alto
do meu chão corpóreo.) (MACHADO, 1998, p. 333)
A fugacidade da existência, que todo momento se volta como ponto reflexivo em sua obra, nos conduz à problemática visceral do corpo, e, desse modo, o poeta sente-se em estado de vigília sobre o encontrar-se no tempo-espaço permanente de seu ethos[3] natal, como um peregrino lutando por dar à sua lida diária o olhar de quem resgata do abandono e da miséria o pensamento situado como espaço a ser habitado pela poesia. Isto reflete a própria angústia do humano, como essencial peregrinação do ser diante da finitude.
Contudo, será por meio de um verbo inaudito e avassalador que o traço poético do autor encontrar-se-á diante das contraditórias artimanhas de um tempo fatalmente arruinado pela busca do valor infértil das coisas produzidas em seu lócus citadino.
Este conflito traz à angústia de sua peregrina memória poética o espaço propício capaz de desconstruir com o fim meramente utilitário das coisas e de seu pretenso domínio fugaz, enquanto redução do humano a uma inautêntica existência. Será, pois, com a palavra que se reconhece, no poeta, a remissão do humano, pois somente nela é possível a liberdade criadora da própria existência. Assim nos diz o autor de A vigésima jaula (1974):
Pois sem palavra não pesa
um corpo morto, e sem ela,
a palavra, é morta a vida,
só a palavra diz do peso,
inda que a sustente o etéreo. (MACHADO, 1974, p. 7).
Palavra que assume o compromisso de fazer-se presença daquilo de que se ocupa o poeta: a angústia do ser humano diante de sua finitude. Por isso, ainda nos afirma Nauro, em O cavalo de Tróia (1998):
Não entra no poema o exterior a ele:
o sossego infinito do universo. (MACHADO, 1998, p. 239)
E não seria outro o ofício deste peregrino do ser, uma vez que é no interior do poema que se encontra a fecundidade da existência. Por isso, o poeta adoece com a realidade. O seu pathos, ou seja, sua capacidade de estar ligado poeticamente ao mundo, é de onde se vê inaugurado o desassossego do humano. A realidade é tomada pela angústia do poeta, ao lançar-se como tecelão da existência. Ele vai tecendo a existência, enquanto traça em versos os incansáveis gritos de sua agonia telúrica.
Na mesma obra, ainda nos apresenta o autor a seguinte afirmação sobre a angústia:
Não me aposentarei jamais da angústia
(meu simples deglutir digere a angústia)
a perseguir-me neste único emprego
sem paga e valia, exceto a de ser-me. (Idem, p. 238).
O poeta é, desse modo, penetrado existencialmente por saber-se como um contínuo processo de fazer-se como poeta no mundo. Assim, ele se faz no mundo como prisioneiro consciente de sua tarefa ocupacional, que reverbera em si o passar do tempo como momento oportuno, afirmando-se pela fecundidade da palavra.

Por duas mil angústias, ó poeta,
as coisas todas, que falam a sós,
falarão por ti a voz plural. Completa. (MACHADO, 1990, p. s/n).
Como Prometeu acorrentado à pedra do destino inexorável, o poeta existe na experiência cotidiana de sua arte, como devorado pela águia de um deus inclemente, ao visitá-lo pelo acordar a cada dia sedento por um novo parto da palavra. Neste espaço situado, ele se descobre alguém que fala da angústia humana, pois a traz consigo visceralmente.
Como Ariadne, ele lança seu fio existencial no labirinto do tempo. Contudo, não espera ser libertado por Teseu deste seu habitat visceral. Por debaixo dos espinhos das linhas em branco do papel à sua frente, o poeta aprende, assim, a cada hora sofrida, a deitar-se ao lado de seu destino humano, e de sua ocupação originária, fecundada pela angústia de ser poeta por toda a existência.
E em sua cidade este drama renasce a cada dia. Será neste cenário, escavado pela solidão do fazer-se duramente poeta, que a palavra ressoa nas ruas, ruínas e becos da vetusta cidade. Enquanto corpo, pelo cotidiano de seus passos, o olhar arguto do poeta refaz a trajetória de uma história fadada à decrepitude no tempo do seu findar-se.
Não obstante este drama fatídico, o poeta descobre-se, pelo encantamento de sua fecunda imaginação, refazendo-se em busca de um ser mais pleno de poesia. Ainda que seja desesperador viver diante do perceber-se faminto de vida, tendo à frente a sua terra natal abandonada pelas pedras de uma visão turva e envelhecida, o poeta lança sua sina como um chão a ser pisado pelas torturantes feituras de seu próprio fenecer.

Ó terra do meu medonho
Despertar horizontal,
No imaginário que ponho
Aberto para o real,
Querendo sonhar meu sonho
Antes do sono final! (MACHADO, 2007, p. 77).

Na solidão de seus estreitos espaços, a cidade fecunda a imaginação do poeta, enquanto observador da morte em vida, vendo com isso o drama de sua existência enquanto fertilidade do ser, transmutado pela dor em seu abandono temporal.

Ó São Luís, chão que é mais
Do que tudo o que me fez:
Se é Natal, e tudo é paz,
Sem Maria alguma em prenhez,
Eu sou quem morto em mim jaz,
Vivendo a morte outra vez. (Idem, p. 72).

Encontramos, portanto, uma leitura da angústia indissociável do ser que se situa no espaço-tempo de sua cidade. Aqui reside uma das mais percucientes abordagens existenciais da poesia naurina. Por lançar-se como cenário cotidiano de si mesmo, o poeta, e com ele a cidade, encontram-se em constante processo de interlocução, no chão árido de suas vicissitudes.

E pela terra interposta

Entre mim e a sua medida,

Esse sonho é como a aposta

Que fiz entre mim e a vida:

Eu, a carregá-la na costa,

Ela, a olhar-me em despedida (Idem, p. 78).

Como palavra situada no pesadume de sua finitude, o poeta invoca a dor de uma existência que se doa no espaço de uma vida dedicada diuturnamente ao drama inquebrantável de sua peregrinação mundana.

Assim, vê-se na poesia de Nauro Machado um trajeto onde o ser do poeta está entranhado com o ser de sua cidade, pois nela se faz e refaz a angústia de tornar-se o que é, ou seja, poeta, que se vê na dureza de seu ofício a fecundar a palavra com o ser de sua alma em angústia.  

Referências
LEÃO, Ricardo. Tradição e ruptura: a lírica moderna de Nauro Machado. São Luís: Fundação Cultural do Maranhão, 2001.
MACHADO, Nauro. A vigésima jaula. Rio de Janeiro: Olímpica Editora, 1974.
______. A Rosa Blindada. Brasília: Editora Alhambra, 1990.
______. Antologia Poética. Rio de Janeiro: Imago Editora; Fundação Biblioteca Nacional Universidade de Mogi das Cruzes, 1998.
______. Pátria do Exílio. (Terceiro e último canto do poema Trindade Dantesca). São Luís, Lithograf, 2007.


[1] Professor de Filosofia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão, Campus São Luís Monte Castelo.
[2] Onde nasce no dia 2 de agosto de 1935.
[3] Palavra grega para designar “morada”, “habitação”, “cuidado”.

O Cristo está sem altar em todos os altares...

O Cristo está sem altar em todos os altares...


E nos terreiros, procissões, mesquitas, igrejas e templos...

Lá ele canta, renovando em nós o povo peregrino.

 
Ouço-te, ó Cristo, cantar ao som dos tambores seculares africanos,

festejando a partilha da água e do pão.

 
O irmão é acolhido pelo coração puro, nada de cascas ou personas doutrinárias.

A irmã que chega é bem-vinda, não importa se ela traz consigo a imagem de irmã...

 
Neste novo tempo, vejo o Cristo sentado ao lado dos grandes profetas, vendo a Deus face a face, sem exigir confissões de ninguém para comer em sua mesa...

Agora, irmanados que estamos pelos corações livres de pecados, amarras doutrinárias, sectarismos, punições, culpas ou remissões, chamamos a Deus de pai, de mãe, de irmão e de irmã...

Vejo o Cristo livre das convenções dos cargos hierárquicos ou da autoridade fechada em si mesma...

Ele é um servo, ele, o pastor...

Ele canta na língua materna da terra...

Ele celebra junto com o povo, na mesa da partilha...

Ele chama as crianças, as viúvas, os sem voz, para o seu altar sem santos...

E eis que os santos surgem sem altar...

Então, a vida é parte deste momento...

Tudo se reconcilia, religando o céu à terra...

 
E o Cristo renasce como estrela cintilante no céu de nossas constelações irmanadas.

A todos os altares, o mesmo amor e graça.


Jorge Leão

13 de fevereiro de 2013

Dos meus poros escorrega

Dos meus poros escorrega
Sei das mãos que se passam em terra alheia
Como esta escalada em que feito pó estamos todos
Ventos e cascalhos, quando todos dormem
Mas, detenho-me a apreciar o singelo segredo das manhãs...
É como um cenário posto em chama
Meu corpo, invadido pelo mar, a cada estação
Fatídico espetáculo de última hora
Sei das perdas de cálcio neste mundo trôpego...
Dos meus poros escorregam a dor e a saudade
Como ratos e baratas em torno de livros de infância
Assim percorre meu semblante, e o dia ainda tardio
Por cima de tempos repletos de memória...
Nas esquinas de meus ossos, vejo-te acordada
É o teu corpo deitado, aberto ao sol da manhã
E o simples desejo de morrer, acaba sendo outro
Por quase uma vida, no lugar das notas dissonantes...
Assim, arco em fino vergar-se, deixo o dia caindo
Mais e mais... sou assim como segredo de poeira estelar
Passando em velozes constelações, brilhos fugazes
Fratura recôndita, que em meus travados eixos me lançam...
Jorge Leão
11 de novembro de 2012

Reencantos

Reencantos
                                                                                         Durante o Encontro do Evoé!
Junto à passagem da memória,
na ausência dos caminhos,
apontando linhas como uma festa inacabada...
As margens...
Este rio que nos traz ao fundo originário desta jornada
que não se dissolve com o tempo...
Pedras como um corpo dilacerando-se,
sem o tempo que tínhamos na infância.
Nossos fios de cabelo, que se perdem entre nossos cupins intestinais.
Sem pressa, estamos à escuta como frutos
caindo pelo lento e contínuo desfazer-se de velhos galhos contorcidos...
Entre memórias e lentas recordações,
nossas palavras derramam na terra o sangue de nosso abraço incontido.
No quintal, o sol torna-se uma palavra.
No quarto, minhas mãos ainda sujas de barro...
agora vejo as sementes da philia fecundando em nossas almas
a lenta retomada de nossos sentidos fugazes...
Até o momento, nossos passos são pedras decaídas no imenso oceano deste silêncio,
que acompanha a morte em torno de nossas bocas comovidas pelo desejo do reencontro...
o que nos envolve como a canção ao fundo...
como poeira estelar, até que os abraços acontecem...
Corpos que se entrelaçam e se refazem,
pois agora as palavras são como gotas de chuva,
bastando o encontro e um semblante puro.
Agora, nossos olhos se encontram diante das mãos
que acordam as sementes no fundo da terra...
São os versos que se entrelaçam em nossos corpos...
até o momento, o cuidado ainda provém de nossos encantamentos,
mas está o tempo próximo...
e nele mãos e pés serão o encontro de um olhar à terra
prometida que nos acolhe a cada amanhecer...
Evoé! no Bar do Leó - na madrugada de quase lua cheia, do dia 24 de novembro de 2012
Presentes: Wandeco, Fred, Rodrigo, Jorge, Rafael, César e Bernardo.

Deus é uma criança...

Deus é uma criança...
Brincando nos campos
Sorrindo, contente, ao ver o sol da manhã
E as flores nos cenários radiantes.
Deus é uma flor pequenina,
Precisa ser tocada delicadamente...
A alma das crianças são jardins...
Deus é um jardim repleto de flores
Em tons de cores diversas...
Deus é amor...
E o vento chega tão leve em nossos olhos...
Deus é uma criança que se esqueceu do tempo...
Ela brinca demoradamente,
Sem compromissos externos,
Ao pé das árvores frondosas.
Jorge Leão
Em 7 de dezembro de 2012

Ouvindo Bach...

Ouvindo Bach...

A passagem do tempo feito relva à tarde...

E quase não lembrávamos das fatalidades das horas.

 
O corpo se retorcia de tanto céu aberto...

Sentenças fáceis de traduzir:

como números em combinação harmônica.


Os sons, se há o canto do divino em ti...

Poderia pegá-lo com os pés.

 
Vejo-te em segredos pela melodia chegando com o vento.

São como linhas penduradas no armário de minha infância,

leve a correr sem tempo, como o sol resplandece agora...

 
Mãos tocando levemente as cordas de meu livro de memórias.

Elas são peças no jardim dos corpos em êxtase a vivificar as horas.

 
Vendo o dia após outro, recordando as folhas caídas.

Ouvindo o assobio no quintal...

como pardais a perder-te na imensidão dos galhos da samuameira...

 
Bach, então, venha para casa mais uma vez,

ao repouso simples e desejado de tuas mãos precisas e dadivosas...

 
Quero cantar-te como ária em sol maior,

e ouvir-te como fuga para o riacho em teu nome...

 
Jorge Leão

18 de dezembro de 2012

 
Samuameira: árvore amazônica, exuberante pelo grandioso caule e extensos galhos, vivem centenas de anos nas matas dando à região sublime harmonia de formas.

Bach: do alemão: riacho, arroio, regato, ribeiro.