quarta-feira, 16 de maio de 2012

Poema a Gonçalves Dias


Vibrante, és fecundo nos dias.
Cantando ao nativo as memórias...
Das noites o que mais tu serias,
senão o clamor nas histórias...

No poema, sobre o lamento e a dor...
Traduziste a canção do Piaga.
Deste solo pisado em furor
Por quem nestas matas indaga...

Teus passos nas ruas sentindo...
Acordo, neste solo, gemendo.
Ouvindo o teu canto sumindo,
Diante do ódio crescendo...

Revejo, porém, tua face
aos desejos inglórios da vida...
Recanto à criança que nasce,
Teu poema nesta terra ferida...

Por que, ao dizer do senhor...
O cenário é de morte e de cruz.
Por tal irascível clamor,
Volta o sangue, o martírio, em Jesus...

O pão sepultado em sementes,
agora escondido do vil Anhangá,
que chega provendo as torrentes
num desterro da tribo a clamar...

Inimigo das matas em trevas,
chega o tempo da anulação...
Deste povo, feito réu de suas ervas,
que outrora fecundavam este chão...

Foste, contudo, a voz, o percurso...
Entre viagens e dores sem par.
Teu povo nativo em concurso,
sem ver a própria ruína a chegar...

Tua pena, teu amor tão incerto.
Desbotando a recusa sem preço,
a manter a lembrança por perto,
como quem reza as contas de um terço.
Na praça, tuas cartas amadas
no silêncio vencido por dote.
Histórias inteiras contadas
como segredo no fundo de um pote.

Dias e noites, a lua cantada.
Tribos letárgicas ao passo de alerta:
é o espectro dissecando a cilada
do invasor nesta terra in-coberta...

Ao teu canto, o Piaga concede
a lembrança de um tempo em desterro...
Aviltando a terra que mede
a distância dilatando este erro.
Dias e noites, revejo o exílio
da sina de um povo insultado.
Hoje, a buscar ainda o seu brilho
no poeta, por seu canto lembrado...

Cantando a saudade além mar.
Em Coimbra, robustos segredos...
Trazidos à pena, ao deitar
em teus cantos, o assombro dos medos...

Em terras distantes, pesadas lembranças.
Dos primores, as palmeiras, o vento...
Agora, vejo-te imóvel, diante das danças,
que refazem em tuas mãos aquele momento.

Poeta nativo das várzeas floridas.
Emerge à lembrança um triste sinal:
emaranhado de lembranças perdidas,
por este retorno à terra natal...


Jorge Leão
16 de maio de 2012.





2 comentários:

Marcos Leite disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Marcos Leite disse...
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