segunda-feira, 14 de maio de 2012

Cidade passante...
Tão leve a condução das horas
na agonia do esquecimento...
Tão breve a perdição das moiras
nas ondas do mar adentro.

Tão perto o ribeirão das hortas
no desvio do corpo ao vento...
que anseia a chegar às portas
do céu sem esquecimento.

Tão perto a cidade ecoa
a memória dos segredos idos.
No esconderijo da pedra à toa
pelas calçadas destes becos sidos...

A lembrança da porta e janela
neste sobrado de meia morada.
Resplandece no altar sem vela,
corroendo o corrimão da escada.

Tão sãs as palavras dadas
nos tempos do Liceu imortal.
Agora, como dunas ilhadas,
vejo-te perdida na avenida central.

Tão verde os mastros da bandeira,
Arrancados os paus da mata em mangue.
Dos rios poluídos pela sujeira
Da química a secar teu sangue...

Ressoa em ti os delírios do passado.
Lendas e lampejos poéticos na memória.
Acorda com o sino, o corpo conspurcado,
nas ruas e ladeiras de tua história.

Tão leve e tão pesada,
Vejo-te, cidade minha, afundando
com a força de uma serpente entoada
pelos ditames lendários findando.

A cada esquina um dizer em jornal.
Hiato caminho à posteridade...
Fecundo mirante ao beiral,
daqueles que dormem em precariedade.

Trazendo assombrados desejos a lume.
Mesmo com a certeza das perdas.
Acordo aturdido nos telhados sem curtume
Dos bois celebrados sem tendas...

Que possam amparar os buracos do chão,
segredando a miséria da vida.
Ao ver no pedaço de um duro pão
a passagem da memória perdida...

Becos que se esvaem em risos e ecos...
ainda fruto dos passos ao vento.
De nós mesmos, colunas sem tetos,
a despertar de um vil juramento...

De que nesta ilha os amores reluzem
pelas ondas do encantamento.
Vejo-te, porém, sem mãos que traduzem
o teu passado, fecundo rebento...


Jorge Leão
12 de maio de 2012







Um comentário:

Marcos Leite disse...

Achei interessantíssima sua poesia, muito profunda em termos de sentimentos, que fala de são Luis, cujo antigamente era uma cidade cheia de historias e belezas, já fora considerada até mesmo Atenas do Brasil, pois daqui surgiram vários poetas, e nos tempos de hoje, tão corrido, perdemos a capacidade de admirar nossa cidade, ela cai no esquecimento do povo, a cidade fica suja, degradada sem alguma preocupação de cuidado.