quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Comentários dos estudantes sobre a obra "Apologia de Sócrates"


















Caros amigos da filosofia e da arte, compartilho alguns textos do último trabalho realizado pelos jovens filósofos, com a obra "Apologia de Sócrates", na turma 104, do curso Eletrotécnica. Mário e Willame, estudantes atuantes nas aulas, colaboraram muito neste trabalho.

Abraços quixotescos...
Jorge Leão.








APOLOGIA DE SÓCRATES

O texto Apologia de Sócrates escrito por Platão, trata da autodefesa de Sócrates, dos seus últimos momentos vivo, antes de sua condenação, mostra o seu último diálogo feito aos cidadãos atenienses e a todo o mundo. O mais impressionante é que ele tentava mostrar a verdade e revelar a sabedoria presente nos lugares mais improváveis, atacando seus acusadores que se julgavam “sábios”, mas que na verdade não eram e os que eram chamados de “ignorantes” eram, na verdade, os mais sábios de todos.

O texto fala bastante de várias emoções, virtudes, sobre as quais gira toda a defesa de Sócrates:

VERDADE = Talvez a principal idéia do texto, Sócrates prefere morrer contando a verdade a viver sabendo que os cidadãos atenienses continuavam vivendo num mundo de mentiras. Foi um dos mais fortes argumentos que ele usou contra seus acusadores.

SABEDORIA = Foi principal argumento usado por Sócrates em sua defesa. E se realmente tivessem feito justiça, Sócrates seria absolvido somente com o seu diálogo com Meleto sobre sabedoria, em que Sócrates tentava se defender das acusações feitas sobre ele.

DIÁLOGO = A vida toda de Sócrates girou em torno do diálogo. E seus últimos momentos de vida não poderiam ser diferentes, o livro “Apologia de Sócrates” escrito por Platão, conta o seu último diálogo com os cidadãos atenienses, em que ele pede para que os cidadãos não se preocupem com as suas próprias coisas, mas que possam buscar a sabedoria, a verdade e a honestidade: “Voltava-me, [...], procurando persuadir cada um de vós a não se preocupar demasiadamente com as suas próprias coisas, antes que de si mesmo, para se tornar quanto mais honesto e sábio possível; a não cuidar dos negócios da cidade antes que da própria cidade, e preocupar-se, desse modo, com outras coisas.” (Apologia de Sócrates, Platão, p. 82).

HIPOCRISIA = A hipocrisia sempre andou junto com a mentira, e Sócrates em seus últimos diálogos sempre exortou os cidadãos atenienses a distinguirem a verdadeira sabedoria da “sabedoria” hipócrita. Em sua defesa também procurou antes de tudo denunciar aqueles que se diziam “sábios”, mas que na verdade eram hipócritas.

Problemas apareceram nos mais diversos lugares e nas mais diversas formas. No texto, estes problemas podem ser divididos em três partes:

1) Fatos que eram problemas para Sócrates;
2) Fatos que eram problemas para os acusadores de Sócrates;
3) Fatos que eram problemas para o povo ateniense.

PROBLEMAS PARA SÓCRATES:

Sócrates encontrou um conjunto de problemas na sua tentativa de absolvição, entre eles:

HIPOCRISIA DOS ACUSADORES = Primeiro, a mentira dos acusadores em fazer acusações sem fundamento, levou à condenação de Sócrates. Segundo, a hipocrisia dos acusadores em persistir dizendo que eram os mais sábios que existiam, levou o povo a acreditar neles, o que também influenciou na condenação de Sócrates.

A RELUTÂNCIA DO POVO EM ACREDITAR = Com a hipocrisia dos acusadores, o povo acabou acreditando que Sócrates era quem estava errado e por isso consentiu na sua condenação. Mas para Sócrates isso era insignificante, o mais importante era que com isso alguns cidadãos deixaram de acreditar nele e fizeram, em alguns casos, coisas totalmente contrárias ao que Sócrates exortava-os a fazer.

O USO EXCESSIVO DA IRONIA = O método de Sócrates para ensinar seus discípulos era a ironia, para que eles procurassem e descobrissem tudo por si mesmos. Ele acabou usando o mesmo método em sua defesa, porém o que deveria ajudar acabou atrapalhando de certa forma já que o povo não sabia ou não conseguia distinguir quando Sócrates usava a ironia e quando não a usava.

O USO EXCESSIVO DA INTERROGAÇÃO = Também era um método de Sócrates para ensinar seus discípulos. Apesar de ter ajudado Sócrates a “desmascarar” Meleto, também atrapalhou, quando Sócrates usava a interrogação contra Meleto, o povo às vezes não sabia em quem acreditar naquele jogo de perguntas sobre perguntas sem chegar, em alguns casos, a uma resposta definitiva.

PROBLEMAS PARA OS ACUSADORES DE SÓCRATES:

SÓCRATES = Nitidamente Sócrates era um problema para os seus acusadores, pois Sócrates pregava a verdade e a sabedoria em toda a Atenas, principalmente naquela época, e ao fazer uma profunda pesquisa sobre a sabedoria das pessoas, constatou que os que ele pensava ser os sábios do povo, na verdade, não o eram. E começou a falar contra estes que se julgavam “sábios” e isto atacou muito Meleto, Anito e Lícon [seus acusadores], que procuraram logo condená-lo por suas “mentiras”.

A SABEDORIA PARA BUSCAR A VERDADE = Sócrates exortava os cidadãos a buscarem a verdade, porém, buscá-la com sabedoria, para não cair em armadilhas de hipócritas; o povo seguindo Sócrates e ouvindo seus diálogos, começou a despertar para a realidade e isso era prejudicial para os acusadores, que logo trataram de calar a voz daquele que incitava o povo, Sócrates.

OS DIÁLOGOS DE SÓCRATES COM OS CIDADÃOS ATENIENSES = Era nos diálogos que Sócrates tentava chamar o povo para a realidade e a única forma de acabar com este “terrível perigo” para os acusadores era calando o “líder”, Sócrates.

A CONDENAÇÃO = A própria condenação de Sócrates foi um problema para seus acusadores, já que, após a sua morte, o povo não “melhorou”, continuando a seguir o que Sócrates falava, rapidamente percebeu a injustiça que tinham praticado e para “consertar” o erro, puniu os acusadores de Sócrates: Meleto foi condenado à morte; Anito foi exilado em Heracléia, onde foi apedrejado pelo povo e Lícon suicidou-se de desespero, relegado por todos.

PROBLEMAS PARA O POVO ATENIENSE:

O USO EXCESSIVO DA INTERROGAÇÃO = A interrogação foi, talvez, um dos maiores problemas para o povo. Enquanto uma pergunta mostrava que Sócrates era quem estava errado, outra mostrava totalmente o contrário e Meleto era quem “se ferrava”. Outro problema relacionado à constante interrogação era o fato de que algumas perguntas não eram respondidas por inteiro deixando, assim, um vazio que prejudicava no julgamento do povo que ficava perdido em saber quem estava certo.

O USO EXCESSIVO DA IRONIA = A ironia também foi um dos problemas, já que a ironia, às vezes, atrapalha no entendimento de um diálogo. Quem ironiza muito, pode cair na armadilha de não ser entendido como gostaria por seus interlocutores.

OS SERMÕES DE SÓCRATES = Os sermões de Sócrates eram cansativos para os cidadãos, mesmo que fossem verdadeiros, eram como cargas pesadíssimas que alguns não conseguiam carregar ou não estavam dispostos para tal feito, pois os sermões colocavam em xeque a posição dos cidadãos em relação ao mundo. Sócrates mesmo afirmou: “Ah! Eu teria verdadeiramente um amor excessivo à vida se fosse irrefletido a ponto de não ser capaz de pensar nisto: vós que sois meus concidadãos acabastes por não achar meios de suportar meus sermões; estes se tornaram para vós um fardo bastante pesado e detestável para que procureis hoje se livrar-vos dele [...].” (Apologia de Sócrates, Platão, p. 83).

A EXECUÇÃO DE SÓCRATES = Foi um dos piores problemas para o povo, talvez o pior, porque todos os outros acima citados levaram a este e o pior é que não tinha como desfazer o mal causado por este. A condenação e execução de Sócrates foi uma grande injustiça e ao se darem conta do engano, os atenienses procuraram corrigir o erro com a condenação dos acusadores de Sócrates, mas que mesmo assim o sentimento de culpa, com certeza, foi pior do que qualquer outra coisa que poderia ter acontecido aos atenienses. A vingança destacada por Sócrates não é proveniente do deus, mas sim dos próprios cidadãos, deste sentimento de culpa: “Digo-vos, de fato, ó cidadãos que me condenastes, que logo depois de minha morte vos virá uma vingança muito mais severa, por Zeus, do que aquela pela qual tendes me sacrificado. Fizestes isso acreditando livrar-vos ao aborrecimento de terdes de dar conta da vossa vida, mas eu vos asseguro que tudo sairá ao contrário.” (Apologia de Sócrates, Platão, p. 87).


VERDADE E SABEDORIA: DEFESA E CONDENAÇÃO DE SÓCRATES

Em Apologia de Sócrates, Platão mostra os últimos momentos de Sócrates vivo, mostra a sua autodefesa, porém sem esquecer da admirável serenidade do filósofo preocupado somente com a verdade e com o destino dos seus acusadores, demonstrando a esplêndida sabedoria de Sócrates durante todo o texto.

Sócrates demonstrava mais atenção ao destino de seus acusadores, à busca da sabedoria e da verdade do que à sua própria defesa. Ele dizia que tinha recebido uma ordem de um deus para cumprir a missão de revelar ao mundo a verdade e mostrar quem realmente era sábio e quem somente o julgava ser. Seus acusadores, porém, queriam atrapalhar seu caminho e por isso seriam seriamente castigados pelo deus, daí a grande preocupação de Sócrates para com seus acusadores, mais até do que com seu próprio destino: “[...] Contudo, por que será que alguns gostam de passar muito tempo em minha companhia? [...] é porque tomam gosto em ouvir, analisar aqueles que acreditam ser sábios e não o são; não é de fato coisa desagradável. E, como disse, foi um deus que me ordenou fazê-lo, com oráculos, com sonhos, e com outros meios, pelos quais algumas vezes a divina vontade ordena a um homem que faça o que quer que seja.” (Apologia de Sócrates, Platão, p. 77).

Para reforçar o que foi citado acima, Sócrates fala em seus diálogos com o povo ateniense, que sem ter feito injustiça alguma, está tranqüilo e por isso não teme a pena que Meleto poderá aplicar. E mais, Sócrates prefere viver falando, fazendo seus discursos “chatos” do que ver o povo ateniense sendo enganado, ver os atenienses de braços cruzados: “[...] Estando, portanto, convencido de não ter feito injustiça a ninguém, estou bem longe de fazê-la a mim mesmo e dizer, em meu dano, que mereço um mal; e me propor a tal sorte. Que devo temer? É possível que eu não tenha de sofrer a pena que me assinala Meleto e que eu digo ignorar ser um bem ou um mal? [...] Bela vida, em verdade, seria a minha, nesta idade, viver fora da pátria, passando de cidade a outra, expulso em degredo. Sei que, por onde for os jovens ouvirão os meus discursos.” (Apologia de Sócrates, Platão, p. 83).

A atitude de Sócrates foi um tanto corajosa e também um tanto ridícula e fantasiosa, se tomarmos como referência nossos dias atuais, quero dizer, Sócrates foi bastante corajoso em doar sua vida em prol do bem-estar dos cidadãos atenienses, sim, ele morreu denunciando os problemas que rondavam os atenienses, não conseguiu convencer a todos, porém, uma grande maioria despertou para a realidade do mundo e alguns até lutaram, culminando na morte dos acusadores do poeta do ser. Pena que essa “luta” durou pouco, hoje quem é que se lembra ou mesmo sabe da ousadia de Sócrates? No mundo de hoje, cego pelo capitalismo, morrer por alguém é loucura, não chega nem a ser coragem. Será que valeu a pena Sócrates morrer? Quantos Sócrates estão morrendo e sendo calados pelo mundo afora?
Quantos ainda precisarão morrer para o mundo se dar conta do que está acontecendo à sua volta?

MÁRIO ANDERSON VIEIRA ROLIM, Estudante da TURMA 104 – do Curso de ELETROTÉCNICA, do CEFET-MA


O mundo precisa de Filosofia?

Tanto o mundo precisa de filosofia quanto a filosofia precisa do mundo. O mundo sem filosofia seria um mundo que não questionaria suas decisões, não tomaria atitudes mais corretas freqüentemente, não conseguiria muitas vezes argumentar sobre algo, convencendo pelas idéias e não por pressão, não conseguiria exercer verdadeiramente sua cidadania, entre muitas outras coisas. O mundo com a filosofia anda melhor, pois existirá a partir de agora pessoas que vão saber realmente quem são, por que são assim, farão novas descobertas a partir de questionamento, farão decisões melhores, poderão conscientemente argumentar sobre algo ou alguém, entre muitos outros feitos.

A filosofia também precisa do mundo, pois sem o mundo a filosofia não teria o que questionar e pôr à prova. Quando o mundo “entra na história”, começa a existir a relação entre sujeito e objeto (sujeito que vai buscar e objeto que vai ser estudado, buscado), algo primordial e essencial na filosofia. Assim o sujeito vai ter o que questionar, e tendo o que questionar, surge a filosofia para ajudá-lo no seu questionamento, na sua busca. Assim, sempre há um ciclo entre mundo e filosofia, dois arquétipos que estão sempre interligados (um sempre precisa do outro).

WILAME MOREIRA COSTA JÚNIOR, Estudante da TURMA 104, do Curso de ELETROTÉCNICA, do CEFET-MA.

Um comentário:

filosofia com arte disse...

Caros filósofos, Mario e Wilame, obirgado pela valiosa colaboração, continuem, sempre, no percurso da busca preciosa pelo conhecimento. A vocês, meus sinceros agradecimentos. Abraços em todos os estudantes da turma 104.
Jorge Leão