segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Condições para o exercício do debate filosófico

Caros amigos e amigas da filosofia e da arte, um texto sobre
as...

Condições para o exercício do debate filosófico

Para que haja, de fato, um debate filosófico, é necessário que tenhamos, inicialmente, uma condição fundamental, a saber, a existência de seres pensantes. Se não ocorrer a possibilidade mínima de estabelecer relações de sentido entre as coisas (aqui, o sentido da palavra "pensar", para os gregos), ocorre que se tornar inviável qualquer possibilidade de exercitar o debate em filosofia.

Outro elemento, decorrente do primeiro, é a capacidade de argumentação sobre um determinado tema ou idéia proposta. Argumentar é apresentar razões que demonstrem a validade de uma idéia. Isso proporciona ao debate aquilo que é próprio de uma fundamentação teórica. Assim, quem argumenta apresenta fundamentos. Não "atira" aleatoriamente um discurso, simplesmente com intenção de convencimento ou persuasão. Assim, é próprio de seres pensantes a capacidade de argumentar.

Quando se argumenta, o debate é exposto por princípios racionais que são publicizados, isto é, colocados em um espaço comum aos participantes. Na Grécia, esse espaço é a "ágora", a praça. Na praça, as idéias explanadas são intercambiadas, pois os ouvintes tomam ciência do que está sendo exposto. Por isso, o terceiro elemento imprescindível para a existência do debate filosófico é o intercâmbio de idéias por meio da exposição das argumentações.

Agora, que já sabemos o que os outros pensam, é necessário aprofundar nossa atenção sobre a extensão daquilo que eles pensam. Por isso, outro aspecto fundamental é a análise das propostas apresentadas. Os participantes precisam agora de tempo para aprofundar o que foi sugerido e argumentado. O debate em filosofia não é algo apressado. Não é algo que exige respostas imediatas. Assim, este é o momento em que cada ouvinte toma para si mesmo a responsabilidade de refletir mais detidamente sobre os temas sugeridos no início do debate.

Depois de analisar as propostas, volta-se à plenária para a apresentação das soluções possíveis, ou os encaminhamentos que a assembléia irá dispor para oferecer a todos a garantia de que o debate é um patrimônio da vida política. Daí, para a filosofia, ser tão necessário que cada problema encontre no debate a oportunidade de relacionar diferentes pontos de vista, a partir de um mesmo princípio, o de que somos seres pensantes dentro de uma comunidade política.

Apresentados os elementos constituintes do debate, segundo um entendimento filosófico, resta-nos agora exercer o direito de debater nossas idéias, e não temer as contradições, que são próprias da vida política. Por isso, quem não estiver aberto para a dinâmica do debate, inventará estratégias falsas para manter-se na política. E é próprio do pensamento político a capacidade de conviver com as diferentes abordagens, modos variados de argumentação, críticas sobre os temas sugeridos, novos encaminhamentos e tempo para amadurecer a condição de seres responsáveis pela comunidade política. Ao contrário, é próprio dos oportunistas de plantão a fuga do debate filosófico na assembléia, nas ruas, na família, nas escolas, nos encontros e desencontros da vida.

Jorge Leão
Professor de Filosofia do CEFET-MA e membro do Movimento Familiar Cristão, em São Luís _ MA

Um comentário:

filosofia com arte disse...

Esse tema aqui sugerido é muito oportuno para o período de ausência de debates filosóficos em nossa empobrecida vida política brasileira... e maranhense...
Abraços quixotescos!!!
Jorge Leão