segunda-feira, 30 de março de 2009

Os fundamentos filosóficos e as implicações sociológicas do conceito de saúde

Amigos e amigas da sabedoria,
uma breve reflexão sobre a relação necessária entre filosofia e sociologia e alimentação, saúde, qualidade de vida, longevidade...
abraços fraternos,
Jorge Leão

Os fundamentos filosóficos e as implicações sociológicas do conceito de saúde

Inicialmente, precisamos afirmar que este conceito deve ser ligado ao campo holístico, pois não podemos admitir uma medicina que não pense uma antropologia filosófica, de fundo pitagórico, integral, admitindo a tríade corpo, mente e espírito. Infelizmente, grande parte dos médicos, ou melhor, dos técnicos em medicina (ser médico é outra coisa, pois implica no conhecimento de uma visão holística de ser humano, tal como propugnava Pitágoras e sua escola), desconhece a visão integrativa, o que impede de que hoje tenhamos uma abordagem natural da cura e das próprias doenças.

O propósito de compreender a saúde em sua relação direta com a cura pode parecer uma atividade pequena, quando se trata de encher o corpo de remédios que não vão a causa do problema, e pode parecer perda de tempo, para um sistema de doença que pensa cada vez mais em moldes paliativos. Por isso, é tão necessário hoje entender o corpo em sua relação de equilíbrio com a mente e com a dimensão espiritual, não como doutrina religiosa, mas como caminho de iniciação, o que parece um absurdo para quem vem de uma formação acadêmica com base no tratamento analítico quantitativo, como faz a medicina tradicional, de caráter alopático.

A filosofia, enquanto espaço de busca radical por um sentido para o pensar e o agir humanos, situa esta discussão no âmbito do processo de redimensionar o indivíduo, em sua relação com o mundo e com os outros, a dimensão ética da alteridade. Não se pode, desse modo, hoje admitir um ministério da saúde desvinculado do ministério da educação, o que me parece um dos graves equívocos dos sistemas de "saúde" e de "educação" que, tradicionalmente, os indivíduos estão sujeitos ao longo da vida em nossa sociedade.

Em termos sociológicos, a saúde precisa ser abordada a partir de uma política de ação planejada por meio de uma compreensão preventiva, uma vez que os gastos públicos a nível mundial hoje retratam a falência da medicina sintomática, aplaudindo o sistema privado dos “planos de doença”, quando de sua "retomada" do poder de gerenciar os problemas enfrentados a nível social, quando o tema é "saúde publica". Isto claramente nos remete ao cerne da questão. Sabe-se que construir hospitais não toca na causa do problema, assim como construir presídios não elimina a ausência da verdadeira educação e a marginalização social imposta a grande parcela da população, excluída das condições necessárias para o desenvolvimento social de uma dignidade humana. Soa como cinismo público você admitir que o efeito de uma causa é combatido por um efeito maior que o efeito anterior; ora, se a causa não for atingida, outros efeitos mais bombásticos virão, certamente.

Assim ocorre com a saúde, se a freqüência de nossos batimentos cardíacos não diz respeito à alimentação que temos e ao nível de vida irracional que levamos nas cidades poluídas que vivemos, pode-se prever a quantidade de dinheiro que o erário público irá depositar na conta dos grandes empresários ligados a indústria dos remédios. Por isso trata-se de um tema médico, pois de caráter antropológico, filosófico, sociológico e ecológico. Ter saúde não é apenas aparentar um corpo saudável, mas ter uma mente equilibrada e um propósito solidário de irmandade afetiva com a natureza e com os demais seres vivos. Ser saudável implica em admitir a unidade e o equilíbrio da natureza no corpo, para assim garantir que o espaço público seja também transparente e solidário.

Talvez a maior dificuldade não seja hoje em administrar a saúde, mas de compreender a necessidade de mudança de hábitos, o que é uma experiência anterior e mais profunda. Precisamos primeiro saber nos alimentar, para depois filosofar. Esse é o resultado prático para aquele que abre a porta do mistério e se vê inundado pela luz azul da harmonia e da saúde. Precisamos de médicos que atuem de modo preventivo, como sábios ouvintes da voz sempre terna da natureza.

JORGE LEÃO
Em 24 de março de 2009

3 comentários:

filosofia com arte disse...

Considerar o tema abordado como prioritário pode nos inspirar a desenvolver projetos voltados sobre a conscientização holística da prática da alimentação. Com esse propósito, estamos iniciando o projeto "A Filosofia da boa alimentação", no Instituto Federal do Maranhão, esperando que uma sólida formação possa ser possível, aos nossos jovens estudantes, que ainda se alimentam de modo tão ruim.
Abraços,
Jorge Leão

Jú Martins disse...

"Talvez a maior dificuldade não seja hoje em administrar a saúde, mas de compreender a necessidade de 'mudança de hábitos', o que é uma experiência anterior e mais profunda. Precisamos primeiro saber nos alimentar, para depois filosofar.".

Sabe o que é interessante Jorge? Se passassemos por um posto e olhássemos: gasolina 0,85/Litro, com certeza não pararíamos para abastecer o nosso carro, afinal, esse combustível não pareceria confiável.

Então como podemos ser tão desinteressados com o nosso próprio "combustível"? Paramos em qualquer lugar e comemos qualquer coisa, sem nos importarmos com a qualidade ou higiene.
... É uma inversão dos valores.


* Esse é um hábito que precisa ser mudado e uma forma eficaz é realmente um ensino tb voltado para a Educação Alimentar das crianças e jovens.

**Quando eu estudava no Cefet, nós nao tinhamos opção de alimentação saudável. Só havia aquela cantina lotada, cheia de salgados com gordura saturada que muitas vezes eram vendidos estragados (isso aconteceu comigo pelo menos três vezes).
Como está a situação hoje?


Abraços eterno professor!!!
JU

filosofia com arte disse...

Querida Juju, a situação não mudou muito, mas o projeto da filosofia da boa alimentação tem tudo para dar certo, pois estamos iniciando o trabalho primeiro com os proprios alunos, depois será envolver a família e assim penso que a própria escola terá mais elementos para mudar o cardápio, isto é, mudar a maneira de abordar a alimentação dos estudantes. abraços fraternos, saúde e paz pela alimentação natural! Jorge Leão