segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Para além dos muros das cátedras...

Um texto recente, sobre os intelectuais, suas cátedras, seus saberes, sua condição contemporânea e suas implicações. Abraços quixotescos! Jorge Leão

Para além dos muros das cátedras...

Precisamos sair dos guetos acadêmicos que nos mantêm distantes da realidade da vida. Um “intelectual” que se confina a seus manuais de pesquisa perde-se no mar de seu preciosismo acadêmico. Este é o intelectual com o uso das aspas...

O mundo exige respostas. A natureza clama por soluções para os problemas que nós humanos, ditos “racionais”, causamos a ela. Nossos preconceitos, arraigados na idéia classista de uma escola para poucos, geram mais barreiras e entraves diante da escassa oportunidade de acesso ao concorrido mundo do trabalho.

É extremamente oportuna a inserção dos intelectuais (agora sem aspas) nos meios de comunicação, a fim de resgatarem o valor educativo do conhecimento e de seu papel na vida política e na cidadania. Nossos jovens crescem no medo e na incerteza, repletos de dúvidas e perdas. Ora, se o conhecimento realiza a busca pelo entendimento da realidade, não é possível pensar o professor fechado em seu hermetismo teórico, alimentado pela vaidade de seus títulos acadêmicos, que serão futuramente devorados por traças e cupins...

Necessitamos levar a filosofia à praça. A esfera da liberdade pública anseia por filósofos engajados. Assim também a ciência precisa respirar ares para além dos muros da academia. Precisamos de artistas engajados, formando platéias desde a infância. A alegria da vida necessita de mãos disponíveis para que novos sorrisos surjam.

Estamos vivendo num mundo de queixas, em que a violência e a descrença invadem nossas consciências, inibindo que sonhos e utopias rejuvenesçam nosso espírito. O muro das lamentações cotidianas se reveste de uma blindagem ideológica, preparada a todo instante para anestesiar a mente dos ouvintes. É necessário um esforço conjugado entre famílias e escolas, igrejas e associações de bairro, agentes culturais e governo, para que, desde cedo, nossas crianças possam descobrir a importância da filosofia, da ciência, do esporte e da arte em suas vidas.

Por isso, a linguagem acadêmica, em diálogo permanente com os diversos seguimentos sociais e políticos, deve fazer-se próxima dos mais distantes. Não admitir que a melhor estratégia sempre será a explanação de um discurso prévio, enclausurado em si mesmo pelos ditames de um racionalismo míope e indiferente aos fracassos e utopias de nosso dia-a-dia.

Necessitamos de uma leitura viva. Necessitamos de conhecimento permanente e atuante. Apostamos no risco dos intelectuais que almejam sempre ares mais rarefeitos. Os ares das montanhas geladas, como diria Nietzsche. Neste caminho, não haverá espaço para condecorações e vaidades inócuas. Ao contrário, nas veredas desta vida arriscada, será necessário um suor sagrado, repleto de disposição ao serviço por espaços de aprendizagem recíproca.

Jorge Leão

Professor de Filosofia do CEFET-MA e membro do Movimento Familiar Cristão, em São Luís – MA.

4 comentários:

filosofia com arte disse...

A necessidade de pesquisadores engajados na problemática social é de fundamental importância para a concepção de conhecimento transmitida nas escolas atualmente. O compromisso dos educadores deve ser, com isso, o de promover um ensino voltado para a uma práxis transformadora, sobretudo das estruturas ideológicas que massacram grande parte da população, que ainda está longe dos muros das universidades...
Abraços quixotescos!
Jorge Leão

Rayssa Fernanda disse...

Essa concepção de aprendizagem é ideal para a nova geração da atualidade. Ter esse tipo de pensamento, desmistificando o saber, trás consequências imensuráveis, afinal, a transformação da sociedade e das ideologias vigentes se dá através da educação...
Como sempre, artigos maravilhosos...
Beijos, de sua aluna
Rayssa Fernanda.

filosofia com arte disse...

Rayssa, obrigado pelo comentário, vamos continuar levando outros temas, também no blog, que estão na sala de aula e fora dela, por isso ser tão necessária a saída da matrix do ensino academicista, fechado em si, como numa mata fechada sem mapas de orientação... Beijos, nos vemos na aula e fora dela...
Jorge Leão

Rayssa Fernanda disse...

Com certeza!
Beijos e mais beijos,
Rayssa Fernanda.