quinta-feira, 3 de julho de 2008

Um barulho incômodo

Caros amigos, compartilho convosco textos de outros tempos, de quando começava a registrar alguns contos no papel da adolescência...
abraços quixotescos!
Jorge Leão

Um barulho incômodo

Nos domínios do quarto havia um grilo insistente. Simplesmente não deixava o sono chegar, atacava em todos os cantos a chance de, por um instante, cobrir-se com o lençol branco; as baratas iam gostar – a boca do dorminhoco estava tomada por restos de doce de uma torta de mamão.

Lá pelas tantas da noite se ouvia uma voz dizendo: vamos dormir que logo este grilo cansa de incomodar. Outra indagou do segundo andar da casa: “Não, não! Procuremos este danado! Vamos ligar as luzes por um instante para ver se achamos donde vem sua localização”.

E todos na casa, ainda com muito sono, levantaram-se em busca do grilo teimoso. Saíam de suas camas tão pesados que deixavam os lençóis brancos espalhados pelo chão.
Vira daqui, mexe dali.

Daqui se mexia, de lá se virava. Ninguém acreditava que o grilo fosse capaz de fugir...
Donde vinha tanto barulho?

Tanto barulho abafado, empacotado num papel de embrulho;
dava mesmo é para ser queimado...

Jorge Leão
14 de dezembro de 1993.

Um comentário:

filosofia com arte disse...

É muito bom rever o tempo que passou e anotar no caderno da memória os registros de fatos que na época surgiam na mente como um vulcão adormecido, entrando em erupção. Nestes tempos, estava envolto na descoberta de textos de autores como Rohden, Voltaire, Machado de Assis, enquanto as primeiras impressões da universidade iam sendo registradas.
Hoje, olhando pra aquele período, digo que valeu muito tudo o que foi escrito e registrado, e agora, de algum modo, sendo publizado, quer dizer, nem tudo...
Abraços quixotescos!
Jorge Leão