sexta-feira, 4 de julho de 2008

Entrevista a Revista Estilos Educaçao

Nome completo: Jorge Antônio Soares Leão

Idade: 33

Formação: Licenciado em Filosofia

Explique de forma breve o projeto.

O projeto centra sua atenção sobre uma proposta metodológica para o ensino de Filosofia, tendo as linguagens de Arte como elementos participantes do processo. Ele é direcionado para o Ensino Médio, dentro do contexto do CEFET-MA.

Como surgiu a idéia do projeto?

A idéia surgiu da necessidade de garantir um ensino filosófico em sala de aula, sem que isso se tornasse para os alunos algo desconectado de sua vida. Daí o encontro com a Arte, mais propriamente a literatura, o teatro, a música e o cinema. Penso que, após a fundamentação teórica dos conteúdos, é necessário que ocorra um elemento motivador, que aproxime a linguagem filosófica do saber dos alunos e dos problemas contemporâneos, por isso o uso de tais linguagens de Arte em sala de aula como propostas para trabalhos em grupo.

Quando iniciou?

A dinâmica do projeto surgiu da experiência realizada em sala de aula. Quando comecei a dar aulas no CEFET-MA, em março de 2002, não tinha qualquer experiência com o ensino de Filosofia, e foi a partir de uma dramatização do mito de Édipo, adaptada pelos alunos, que percebi o quanto é necessário o professor perceber que a sua formação acadêmica precisa estar cotidianamente ligada a uma sensibilidade estética, isto é, a um processo de criação e recriação de seu próprio fazer pedagógico, que, em grande parte, é oriundo daquilo que o professor é capaz de aprender com seus alunos.

É difícil lecionar Filosofia para o Ensino Médio?

Tudo pode se tornar complicado, sem compromisso e amor. Até tomar um copo d´água pode ser um suplício, para quem não vê a necessidade da água para sua vida. Do mesmo modo o ensino de Filosofia no Ensino Médio. Assim como outra disciplina, pode ser difícil ensinar Filosofia, quando não se compreende o que é propriamente a experiência filosófica do pensar. Se o objetivo de minha aula for uma mera transposição mecânica da História da Filosofia para a sala de aula, então será difícil, complicado e massacrante ensinar Filosofia. Se, ao contrário, a finalidade do ensino de Filosofia for suscitar nos alunos o processo de autonomia intelectual, por meio de sua capacidade de levantar questões essenciais para o ser humano, problematizar a realidade e ser capaz de elaborar respostas conceituais a tais problemas, então o ensino de Filosofia tornar-se-á não algo fácil, mas com um significado profundo para a vida dos alunos presentes na sala de aula, não como expectadores, mas como livres pensadores. Considerar a Filosofia algo “difícil” pode ser a primeira dificuldade no ensino de Filosofia, se entendermos aqui o termo “difícil” como algo incompreensível, distante, isolado da realidade do mundo.


Qual o maior desafio?

Estar em mediar o processo do pensar, sem que para isso tenhamos que nos tornar, como professores de Filosofia, incompreensíveis aos nossos alunos. Ou seja, é um desafio entrar em sala de aula e garantir o ensino filosófico, sem cair na tentação de explanar informações sem significado para a realidade dos alunos, ou, como também pode ocorrer, na simples proposta de uma aula temática, que na maioria das vezes se transforma em uma aula de “achismos”, onde cada aluno tem uma opinião ou preconceito estabelecido sobre os mais variados temas cotidianos. Nenhuma das propostas anteriores constitui o ensino filosófico.

Enquanto recurso pedagógico, como a Arte pode contribuir na formação educacional?

A Arte é uma experiência humana para dar significado à existência. Assim como a Filosofia, ela instiga a consciência humana para o problema do sentido da vida. Desse modo, a percepção artística, a sensibilidade e a imaginação criativa são elementos fundamentais para a realização de um processo de formação que compreende o ser humano em sua integralidade. Por isso, é tão importante a Arte nas aulas de Filosofia, e na escola de um modo geral.

Qual a sua opinião sobre a interdisciplinaridade?

Ser interdisciplinar não significa expor conteúdos de outras disciplinas em sua aula, de modo desconexo; isto implica em ser enciclopédico, não interdisciplinar. Para concretizarmos a interdisciplinaridade na escola, é necessário primeiro que a mesma
planeje seus projetos voltados para uma construção coletiva entre professores, e posteriormente, entre professores e alunos. Por meio da identificação de problemas comuns, nascerão os temas fundantes ou geradores, e a partir daí, será possível elaborar um plano de estudos, onde o enfoque não será mais as já tão conhecidas “as áreas de conhecimentos” ou “disciplinas específicas”, com seus programas e currículos, mas o conhecimento humano e seus desafios contemporâneos. É desse ponto que podem nascer, na escola, os grandes projetos interdisciplinares.

Como são feitas as avaliações?

As avaliações levam em consideração o processo de aprendizagem ao longo de uma série de atividades. Isto é, os alunos são levados a participar das aulas junto com o professor, tendo como ponto de partida a fundamentação teórica, com as aulas expositivas, a necessária leitura dos textos filosóficos (que devem ser relacionados ao tema proposto), a problematização dos conteúdos, que pode ocorrer, conforme a escolha do professor e as condições da escola, por meio de uma música, de um texto literário ou de um filme, para só assim ocorrer o debate, em que a turma é dividida em grupos de seis a sete alunos, onde cada equipe deverá criar uma maneira de responder aos problemas apresentados durante o estudo dos temas expostos em sala de aula pelo professor. Assim, leva-se em conta não a capacidade de memorização dos alunos, mas a sua compreensão do processo, e, conseqüentemente, a inserção dos alunos de modo concreto com os conteúdos filosóficos.

Esse projeto já participou de eventos científicos? Quais? Como foram?

Participamos, junto com os alunos bolsistas, da 15ª SBPC Jovem, na cidade de Belém, em julho de 2007, da I Mostra de Ciências das Escolas Públicas, realizada no CEFET-MA, em outubro de 2007, além dos relatórios parciais e finais entregues a uma comissão de professores da FAPEMA, junto a várias escolas públicas do Maranhão, em maio e novembro de 2007, respectivamente. No ano de 2008, o projeto participou, no mês de abril em Brasília, da 2ª Feira Nacional da Educação Básica, representando o CEFET-MA, na modalidade do Ensino Médio. A experiência de participar de eventos como esses é valiosa, contribuindo para a melhoria do projeto de um modo mais amplo, pois equívocos são percebidos, sugestões são anotadas e contatos com outros pesquisadores são realizados, o que ajuda de modo inconteste a motivação de todos os participantes para continuarem no caminho da pesquisa e em todos os desafios que de lá se originam.

Quantos alunos participam ou já participaram deste projeto? Quais os nomes deles?

Como alunos bolsistas, foram cinco alunos, e uma aluna colaboradora, que iniciaram no 2º ano do Ensino Médio e terminaram a pesquisa já no 3ºano. Hoje, estão cursando cursos variados na Universidade Federal do Maranhão. São eles: Antônio Ciríaco, Larissa Abreu, Irlana Martins, Larissa Régia, Virgínia Assunção e Dayanna Gomes Santos (colaboradora).

Qual sua avaliação do projeto até agora?

A avaliação é a de um trabalho que deve continuar, e alargar cada vez mais as possibilidades de um ensino de Filosofia pautado na autonomia intelectual e na sensibilidade artística de nossos estudantes. Por isso, é muito gratificante a experiência oriunda deste projeto de pesquisa.

Como o professor deve trabalhar a Filosofia em sala de aula?

Levando em consideração, primeiramente, que compreensão de Filosofia o professor leva a seus alunos. Tendo essa clareza, será mais perceptível a metodologia a ser trabalhada. A dinâmica da pesquisa em sala de aula, por exemplo, é oriunda de uma percepção de Filosofia que, necessariamente, leva o ser humano a ser autor de sua história e construtor responsável pelo processo do conhecimento; não um mero expectador, arquivo morto de informações inúteis de um passado distante, admitido como depósito de peças de um museu afastado dos problemas concretos da vida. Foi dessa compreensão que nasceu o projeto “Filosofia com Arte no Ensino Médio”. Assim, o professor de Filosofia sempre parte de uma compreensão de Filosofia, tendo ele ou não consciência disso.


Qual a sua opinião sobre as formas de lecionar Filosofia hoje em dia?

Ainda há muita dificuldade no ensino de Filosofia. Todavia, penso que o problema hoje é geral na escola. Os professores saem da Universidade com uma compreensão fragmentada do conhecimento, o que acaba refletindo em um ensino academicista, ainda voltado para o vestibular, e que não promove, por conseqüência, o exercício da autonomia intelectual dos alunos. Tanto a Filosofia quanto as demais disciplinas vêm passando por tais dificuldades. Deve-se por isso repensar nossas práticas pedagógicas, assim como nossa formação acadêmica, para saber que a escola deve responder a problemas contemporâneos de ordem complexa, de maneira interdisciplinar e contextualizada. Desse modo, a Filosofia tem um papel fundamental para desencadear este debate com a Ciência e a Arte, em torno deste projeto de uma sociedade mais justa e de um mundo mais humano, admitindo o ser humano em sua integralidade.

O que é mais prazeroso para você, como educador, ao desenvolver este projeto?

Saber que os alunos estão aprendendo a caminhar com suas próprias pernas. Essa é uma conquista que muito nos anima na realização deste projeto.

Pretende dar continuidade?

Sim, pois nesta perspectiva o aluno se vê como responsável pelo processo de construção do conhecimento, e se insere como cidadão na sociedade em que vive.

Quais os seus planos para o futuro?

Construir com os demais colegas já engajados em projetos de pesquisa uma proposta interdisciplinar no CEFET-MA, com a formação continuada de nossos professores e a existência de um Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar, que possa integrá-los não apenas por disciplinas específicas, mas por temas comuns e problemas coletivos, a fim de que possam ser propostas pistas ou soluções, pela contribuição de múltiplas potencialidades de inteligência associativa. Neste caminho deve também seguir o projeto de iniciação científica “Filosofia com Arte no Ensino Médio” e todos os demais já em realização no contexto do CEFET-MA.

Muito Obrigado,
Jorge Leão
Professor de Filosofia do CEFET-MA

2 comentários:

filosofia com arte disse...

Agradeço a oportunidade concedida pela Ingrid, que nos aproximou da revista Estilos Educação, que terá em seu segundo número, do mês de julho de 2008, publicada esta entrevista. Agradeço também, de coração ao Professor Fábio Sales, coordenador do Programa de Iniciação Científica Jr., no CEFET-MA, e aos queridos amigos, alunos bolsistas do projeto: Irlana, Larissa Abreu, Larissa Régia, Antônio Ciríaco, Virginia e Dayanna, a nossa fiel colaboradora. Beijos no fígados de todos vocês!!!
Jorge Leão

Larissa Régia disse...

O projeto tem muito a contribuir com o sistema de ensino e vejo que essa entrevista vem ampliar a socialização com a sociedade em geral!

agradeço a participação nesse projeto!

e um beijo para todos!

Larissa Régia