segunda-feira, 21 de julho de 2008

É possível uma alternativa aos vestibulares?


Vejamos um debate intrigante e necessário, quando o tema é vestibular. E você, o que pensa disso? Eis um texto refletindo sobre este tema polêmico, a partir de uma experiência interessante, que são os projetos de iniciação científica júnior, realizada por meio de um convênio entre FAPEMA e escolas públicas maranhenses. Opine sobre o debate, deixando aqui seu comentário...

Abraços quixotescos!
Jorge Leão



É possível uma alternativa para os vestibulares ?


No cenário contemporâneo, a proposta de um conhecimento integrado faz-se de urgente presença. Desse modo, observa-se a necessidade de uma mudança de paradigma, isto é, de modelo interpretativo, a partir da visão de escola que ainda vigora. Os problemas globais exigem soluções interdisciplinares. Não se pode mais conceber a resolução de problemas de ordem complexa com práticas fragmentadas ou mesmo isoladas de um contexto mais amplo. Pensar a escola, então, a partir de bases científicas contextualizadas às exigências do ser humano nas teias de relações em que tece sua jornada neste planeta. Eis o grande desafio.

Ora, uma das vias de acesso a este processo de pensamento integrado no ambiente escolar é a prática da pesquisa científica. Entre professores e estudantes, as iniciativas deverão estar fomentadas dentro de uma metodologia investigativa e participativa. Com o vínculo da pesquisa científica, o próprio entendimento do papel da escola muda radicalmente. Dentro da realidade vista em nosso mundo contemporâneo, o trabalho pedagógico deve ser realizado a partir de uma visão holística de conhecimento, isto é, compreendendo o ser humano integralmente, a fim de contribuir para a inserção da escola de modo transformador no mundo globalizado em que a mesma se situa. Como assinala o pensador francês contemporâneo, Edgar Morin: “um pensamento capaz de enfrentar a complexidade do real, permitindo ao mesmo tempo à ciência refletir sobre ela mesma” (MORIN, 2005, p. 31).

Mas, é possível observar este novo modelo no contexto da escola contemporâneo? Ora, aqui no Maranhão, algumas escolas públicas estão iniciando esta árdua caminhada por meio da inserção da pesquisa. No contexto específico do Centro Federal de Educação Tecnológica do Maranhão, e também outras instituições como o Liceu Maranhense e o CEGEL, foi realizado um convênio interinstitucional com a FAPEMA, Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão, desde o ano de 2006, pelo Programa de Iniciação Científica Júnior, o PIBIC-Jr., em que vários projetos de pesquisa foram desenvolvidos com êxito, tanto a nível de ensino médio quanto a nível de cursos técnico-integrados (no caso do CEFET-MA), no período de um ano, com bolsas mensais no valor de R$ 100,00 para cada bolsista. Vale aqui o registro da participação de nossos estudantes pesquisadores na 59ª Reunião Anual da SBPC, e da 15ª SBPC Jovem, na cidade de Belém – PA, no período de 8 a 13 de julho de 2007, como, mais recentemente, na 60ª SBPC em Campinas, e na 16ª SBPC Jovem, nos dias 13 a 18 de julho de 2008, com um ótimo desempenho de todos os representantes maranhenses. A avaliação dos professores é que os resultados finais dos projetos indicam um nível de responsabilidade, compromisso com a pesquisa pelos jovens estudantes, sem falar na mudança de percepção do papel da escola pelos próprios estudantes, elementos que nos entusiasmam e ratificam a certeza de que o caminho da pesquisa promove a autonomia intelectual.

Por isso, a Coordenação do Projeto PIBIC-Jr, no CEFET-MA, representada pelo incansável trabalho do Professor Fábio Henrique Silva Sales, apresenta este relato de experiência, no intuito de oferecer uma proposta concreta e alternativa de ingresso nos cursos de ensino superior por parte dos estudantes bolsistas e pesquisadores às nossas Universidades. A proposta é que toda pesquisa deverá ser acompanhada pelo professor orientador e pelo setor pedagógico da escola, a partir da instauração de um Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar, e, ao término da mesma, os estudantes deverão apresentar um relatório final da pesquisa com os resultados obtidos a uma banca avaliadora, tal como já é feito junto à FAPEMA. A depender do desempenho dos estudantes, o conceito alcançado servirá de critério para o ingresso nos cursos superiores de nossas instituições de ensino, sem o tradicional vestibular.

Espera-se com isso ter uma avaliação mais profunda e qualitativa de ingresso de nossos jovens estudantes à Universidade. Como se sabe, o perfil de um aluno memorizador de fórmulas ainda predomina com os modelos de vestibular vigentes. No entanto, a pesquisa científica, já a nível médio, vem paulatinamente mudando este cenário, com o desenvolvimento de uma postura crítica, problematizadora dos conteúdos transmitidos, e também pela capacitação dos jovens estudantes a trabalharem em equipe e dando a eles elementos fundamentais para a promoção de atividades efetivamente crítico-reflexivas na escola, como produção de artigos científicos, relatórios de atividades, realização de pesquisas de campo, participação de grupos de estudos e em eventos científicos, a nível local e nacional.

Portanto, os benefícios da pesquisa na escola vinculam-se à contribuição que a ciência, apresentada pela realização de projetos de iniciação científica, poderá oferecer a um novo entendimento do papel da escola, em que professores e estudantes, estejam inseridos de modo direto no contexto concreto da sociedade em que vivemos. Sabe-se, contudo, que muitos interesses mercadológicos vão refutar tal proposta. Mas, já é chegado o tempo de debatermos com a sociedade se queremos manter nossos jovens robotizados pela memorização de dados inúteis à vida, como ainda é prática rotineira da maioria dos exames vestibulares, ou se a escola deve ser compreendida realmente como um instrumento de produção científica, autonomia intelectual e cidadania.

Jorge Leão
Professor de Filosofia do CEFET-MA e membro do Movimento Familiar Cristão

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAGNO, Marcos. Pesquisa na Escola – o que é como se faz. 19.ed. São Paulo: Loyola, 2005.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Saberes necessários à prática educativa. 28. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

MORIN, Edgar. Ciência com Consciência. 8. ed. revista e modificada pelo autor. Tradução: Maria D. Alexandre e Maria Alice Sampaio Dória. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.

______. A Religação dos Saberes – o desafio do Século XXI. 3. ed. Tradução e notas de Flávia Nascimento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.

Um comentário:

filosofia com arte disse...

Tenho tido vários embates comigo mesmo a respeito desta polêmica. às vezes penso que o ritmo das aulas deve ser mantido, e vejo tantos alunos ainda preocupados com o vestibular... Mas, o trabalho tem sido recompensado com bons frutos de jovens pensadores, que hoje são autônomos, e que passaram no vestibular. Eles sabem que as avaliações de filosofia exigem muito mais que memorização de dados, por isso, penso que este é o caminho, não sei se o ideal, mas pelo menos algum labor filosófico há para nele caminhar. Abraços a todos os jovens pensadores que debatem os riscos de ser um livre pensador. Abraços quixotescos! Jorge Leão